Os estilos de Vinculação e o seu papel nos Relacionamentos
- Susana Garrido Bárrios Psicologia e Formação
- 5 de ago. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de ago. de 2022
É da natureza humana procurar o contacto com o outro, relacionar-se mais intimamente, amar, ser amado, obter apoio e conforto no outro.
No entanto, o amor e os relacionamentos raramente são tão perfeitos e livres de problemas.
Como nos diz o psiquiatra e psicanalista António Coimbra de Matos ‘Não é fácil amar, mas é bom. E se não se amar não se vive’.
Mas... O que é a Vinculação? | Qual a influência nas relações adultas? | No entanto... | Uma última reflexão

Nos seus relacionamentos, como se vê? Considera-se "demasiado carente", fica angustiado(a) quando fica sozinho(a) por muito tempo, ou, por outro lado, sente-se mais independente e mais confortável se estiver sozinho(a) por longos períodos, ou ainda, sente-se confiante e confia totalmente no seu parceiro?
Estes, e outros padrões, estão muitas vezes relacionados com o estilo de vinculação de cada um.
Mas... O que é a Vinculação?
A Vinculação pode ser definida como um vínculo emocional, ou uma forma de “conexão psicológica”, entre as pessoas.
Fundada pelo psicanalista John Bowlby na década de 1950, e ampliada por Mary Ainsworth no início da década de 1970, a Teoria da Vinculação diz que as experiências de uma criança com figuras de referência influenciam de forma indelével o padrão de vinculação que ela desenvolve, e refere como este vínculo inicial estabelece a base para os relacionamentos ao longo da vida.
Os Estilos de Vinculação
De acordo com a Teoria da Vinculação, existem quatro estilos:
- Seguro - Se uma criança pode confiar de forma consistente nos seus cuidadores, na medida em que estes satisfazem suas necessidades fisiológicas, de proximidade e de carinho, é provável que desenvolva um Estilo de Vinculação Seguro, ou seja as vão conceber os relacionamentos como um espaço seguro onde podem expressar saudavelmente suas emoções, sentindo-se à vontade para explorar o mundo que as rodeia, aprendendo também, com o apoio e orientação dos pais, formas de regular as suas emoções.
Por outro lado, Estilos de Vinculação Inseguros desenvolvem-se quando a criança tiver um vínculo "tenso" com seus cuidadores, que pode acontecer quando a criança aprende que não é possível confiar nos outros para satisfazer as suas necessidades básicas e de conforto. São eles os estilos:
- Evitante - O cuidador que não está disponível e não garante a satisfação das necessidades da criança de forma regular e previsível, pelo que esta é forçada a distanciar-se emocionalmente e a tentar regular-se sozinha.
- Ansioso - O cuidador é, provavelmente, inconsistente no seu estilo parental, ou seja, por vezes empenhado e responsivo às necessidades da criança, outras vezes indisponível ou distraído. Esta inconsistência pode deixar a criança ansiosa e incerta sobre a satisfação das suas necessidades.
- Desorganizado - Os cuidadores agem, simultaneamente, como uma fonte de medo e de conforto para a criança, desencadeando confusão e desorientação na relação. A figura parental pode estar a ignorar ou a negligenciar as necessidades da criança, ou o seu comportamento errático e caótico pode estar a ser assustador e traumatizante para a criança.
Qual a influência nas relações adultas?
Os estilos de vinculação caracterizam-se por comportamentos manifestados numa relação, nomeadamente quando essa relação é ameaçada. Por exemplo, alguém com um estilo de vinculação seguro pode ser capaz de partilhar os seus sentimentos abertamente e procurar apoio quando confrontado com problemas. Por outro lado, aqueles com estilos de vinculação inseguros podem tender a tornar-se dependentes nas suas relações, comportar-se de forma egoísta ou manipuladora, ou simplesmente evitar qualquer tipo de intimidade.
A identificação destes padrões pode ajudar a clarificar o que é necessário numa relação e perceber a melhor forma de ultrapassar problemas.
Estilo Seguro
As pessoas com estilo de vinculação seguro tendem a funcionar bem nas relações. São geralmente positivas, confiantes e afectuosas para com os seus parceiros, sentem-se dignas de afecto e não precisam de validação externa. Tendem a confiar no parceiro e são capazes de relações de longo prazo. Outras características prendem-se com a capacidade de desfrutar de relações íntimas, procurar apoio e partilhar sentimentos com outras pessoas.
auto-regulação de emoções
capacidade em confiar no outro
boas competências comunicacionais
capacidade de auto-reflexão
boa gestão de conflitos
boa auto-estima
emocionalmente disponível
Estilo Evitante
As pessoas com estilo de vinculação evitante podem ter dificuldades com as relações mais íntimas. Não investem emocionalmente nas relações e experimentam pouca angústia quando uma relação termina.
Tendencialmente evitam a intimidade e são mais susceptíveis de se envolverem em sexo casual. Demonstram dificuldade em apoiar os parceiros e também na partilha de sentimentos, pensamentos e emoções.
evitamento de intimidade emocional e/ou física
forte sentimento de independência (entende que não necessita de ninguém)
desconfortável a expressar os seus sentimentos
dificuldade em confiar nos outros
dificuldade em assumir compromissos relacionais
Estilo Ansioso
As pessoas com estilo de vinculação ansioso podem sentir-se muitas vezes relutantes em se aproximarem dos outros e têm receio de que os seus sentimentos não sejam retribuídos, podendo levar a conflitos frequentes porque a relação é sentida como "fria e distante". Estes indivíduos sentem-se indignos de afecto e precisam de uma validação permanente por parte dos seus parceiros. Culpam-se por problemas na relação e podem exibir ciúmes intensos ou desconfiança devido à falta de auto-estima. Existe permanentemente um medo de abandono e rejeição.
dependência emocional
sensível à crítica
necessidade de aprovação/validação de outros
dificuldade em estar sozinho
baixa auto-estima
sentir-se indigno de afecto
medo intenso de rejeição e abandono
dificuldade em confiar nos outros
Estilo Desorganizado
As pessoas com estilo de vinculação desorganizado tendem a ter um comportamento imprevisível e confuso, oscilando entre ser indiferente e independente, e ser dependente e emocional. Têm muita dificuldade em estabelecer relações duradouras, que podem ser percepcionados como assustadoras, inseguras e imprevisíveis, pelo que se comportam também de forma imprevisível dentro das suas relações, alternando entre o medo e a necessidade de segurança. Podem, também apresentar padrões de comportamento anti-sociais ou negativos, abuso de álcool ou drogas, ou propenso à agressão ou violência.
medo de rejeição
incapacidade de regular as emoções
comportamentos contraditórios
altos níveis de ansiedade
dificuldade em confiar nos outros
No entanto...
... É importante salientar que, embora a vinculação seja estruturalmente formada na primeira infância, os modelos de vinculação internos poderão ser alterados em relações posteriores, durante o decorrer dos anos, das experiências e das vivências de cada um.
Por isso, existe também a possibilidade de fazer mudanças que podem ajudar a melhorar a forma como se relaciona com os outros, quer sejam amigos, familiares ou parceiros românticos. Optar por assumir um papel activo na mudança do seu estilo é muitas vezes a forma mais adequada de o conseguir, mas é preciso ter em mente que este é um processo que exige trabalho, vontade, paciência e tempo, mas cujos resultados lhe permitirão, com certeza, melhorar não apenas a forma como está para os outros, mas também consigo mesmo.
Uma última reflexão
Embora os estilos de vinculação dos adultos possam não corresponder exactamente aos da primeira infância, não há dúvida de que as nossas relações com os cuidadores desempenham um papel importante. Compreender como o estilo de vinculação molda e influencia as relações íntimas pode ajudar a dar sentido ao próprio comportamento, como se conecta com o parceiro e como se responde à intimidade.
Se pretende trabalhar em direção a um estilo de vinculação seguro, ou simplesmente deseja mais informações, esclarecer dúvidas, ou até comentar este assunto, entre em contacto!
Vamos?
Algumas referências consultadas
https://psycnet.apa.org/doiLanding?doi=10.1037%2F0012-1649.28.5.759
https://www.attachmentproject.com/blog/four-attachment-styles/
https://www.columbiapsychiatry.org/news/how-attachment-styles-influence-romantic-relationships
https://www.verywellmind.com/attachment-styles-2795344
https://psychcentral.com/health/4-attachment-styles-in-relationships



